Qual é a música?
Os corredores estreitos onde circula a pequena Isabela Yeon Seo Do – que tem 9 e 10 anos ao mesmo tempo – escondem mais que um restaurante japonês numa das escuras ruas do bairro da Liberdade. A garotinha é filha de um casal coreano, clientes dos mais antigos da casa. Porem, o Samurai é mais que um restaurante. Seu segredo não está em um letreiro fluorescente na porta principal. A proprietária, Mônica Mithie Uezono, prefere não alardear o karaokê que funciona como uma casa separada a apenas um andar de distancia.
Aberto em 1999, o karaokê atrai – e mantém – seus clientes ao longo dos dezesseis anos de existência, como é o caso de Manoel Nelson. Analista de sistemas, alto e com jeito boa-praça, Manoel tem folego para cantar – inclusive em japonês – ao menos uma vez por semana.
“A primeira vez que cantei em japonês achei chato”. O motivo: a dificuldade para entrar no ritmo. Mas o desafio levou Manoel inclusive a gravar um CD para treinar. O ambiente descontraído – que permite aquele clima desavergonhado de quando se esta entre amigos – fizeram de Manoel um dos cantores mais assíduos do lugar.
Na mesma mesa – coberta por copos e garrafas – está Jorge Ogawa e nossa Mama San (como é chamada a dona dos estabelecimentos japoneses), que não perde a oportunidade de beber com os clientes. Jorge lhe prepara um misuwari – uma mistura de água, gelo e um pouco de uísque. “Só aqui o homem serve a mulher” diz entre risos e antes de um sonoro kampai – o nosso brinde à saúde.
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A única certeza de Jorge é que frequenta o karaokê ha mais de dez anos. Entre copos, garrafas e os papéis com as musicas que gostam de cantar, Jorge e Mônica relembram as coincidências da vida. Ambos receberam bolsas do governo japonês – ela em 1986 para cursar oncologia em Kagoshima; ele para informática, em 1984, na província de Yamagata. O programa também serve como uma reimersão e retomada da cultura japonesa para que os descendentes dos imigrantes que aportaram no Brasil em 1908 não tenham o esquecimento de suas origens e costumes.
Moderna, bem vestida e descendente de italianos, a empresaria de moda Débora Piruzini esteve em contato com a cultura japonesa desde criança, quando frequentava a fazenda de vizinhos japoneses. Pegou tanto gosto que já teve dois maridos japoneses. Mas na hora de cantar, prefere os sons fechados proporcionados por canções francesas. De olhos fechados e sentimentos borbulhantes, Debora se entregou à canção mais famosa de Edith Piaf até conseguir as palmas no fim da música. Ao contrário da amiga, a jornalista Rose Angel, de 34 anos, tem certa vergonha de subir ao palco e preferiu ficar de plateia, só olhando. Mas é preciso considerar que é sua primeira vez num karaokê. “Preciso de um saquê para desinibir” brinca.
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